sexta-feira, 13 de setembro de 2013

III CAPÍTULO

III CAPÍTULO

A chegada à escola

Ficou alguns minutos à frente da escola, observando, a espera que alguém aparecesse, mas pela demora resolveu entrar. Não havia ninguém no portão de entrada, e assim foi entrando,entrando.
Quando a sua frente aparece uma mulher bem vestida, loira, aparentemente entusiasmada e logo se aproxima perguntando:
― Bom dia! Posso ajudá-la?
― Acho que sim, respondeu Ana Clarice. ― Sou a nova professora da escola,vim trazer os documentos.
― Meu nome é Ângela, sou a nova diretora. ― Nova?! ― Indagou.
― Sim, estou na escola há um mês, o antigo, se aposentara e fui convidada a assumir em seu lugar.
― Legal!
― Vamos, vamos entrando, te mostro a escola e sua sala de aula.
― Hoje não teve aula? ― Não está tendo nosso último Conselho de Ciclo, é bom porque te apresento alguns professores.
Feliz, cheia de expectativas, Ana Clarice, caminha e observa toda a escola.Se encanta por um lindo jardim, um não vários, de flores bem coloridas e folhas verdes, um jardim muito bem cuidado.
― Venha, entre, aqui é minha sala, me dê seus documentos. Se quiser pode ficar pra reunião.Antes te mostro a escola.
― Obrigada, agradece,meio sem jeito.
E a diretora sai mostrando todas as dependências da escola. ― Que quadra enorme! Exclama Clarice.
Mas percebe que nela faltava mais colorido, estava um pouco mal cuidada, depredada, claro que Ana não poderia deixar que questionar:
― A escola vai ser reformada? ― Com certeza, desse jeito não dá pra receber os alunos ano que vem, já esta assim desde o começo do ano, ai os alunos vão vendo e vão destruindo mais ainda e eles realmente destroem tudo. Não zelam não!
― Nossa! Que pena! Mas depois de reformada, tem que haver uma campanha de conscientização, Ana comenta.
― Pronto, já conheceu toda a escola, vem que te mostro sua sala, porém não te confirmo ser esta, já que vai haver reformas, mudanças no quadro de professores, emfim,pode ser outra sala. ― Entendi,não se preocupe.
― Vou aqui rapidinho, já volto.Fala a diretora, deixando Ana num pátio.
Ela continua a observar e fazer mil planos, ao mesmo tempo que sente medo, que de quê ela ainda não sabe.
Ana Clarice aproveita que está sozinha e liga para sua mãe dizendo estar bem.Neste momento a diretora voltara e a leva a sala dos professores.
Chegando lá é apresentada a vários professores, Ferreira, Daniel, Teresa, Walenska,Vitória,Conceição, Kátia,e outros, também a alguns estagiários.
Ela foi se enturmando, fazendo perguntas, tirando dúvidas. E Angela, não a diretora, mas a coordenadora, elas tinham o mesmo nome,foi muito receptiva e preocupada em ensinar tudo a Ana Clarice.
Mais tarde Ana se despede, prometendo voltar uma semana antes das aulas começarem, ela queria fazer o planejamento e decorar sua sala. Enfim cheia de planos.
Sai acompanhada do professor Ferreira, ele lhe ensinara um outro caminho, um mais curto para voltar para casa. Teria que ir seguindo a rua ao lado da escola,onde tinha um estreito canal, cheio de lixo pra variar, alguns cavalos e uma praça depredada,com brinquedos sem uso.No caminho ia cumprimentando as pessoas que nem conhecia,observando o lugar,tudo que estava a sua volta.
O professor Ferreira, foi muito simpático,mas não era de muita conversa.― Vai ver que era seu jeito mesmo, pensa Ana.
Chegando em casa, não pára de falar tudo o que acontecera, sua mãe e irmã bem atentas escutavam.


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

II CAPÍTULO

II 

O chamado

Ficamos a espera do chamado, aliás do telegrama da Prefeitura do Recife, nos convocando. E assim aconteceu.
Numa manhã de segunda-feira,cinco de novembro de 2007, Ana Clarice recebera o tal telegrama e  logo liga pra mim:
― Tatiana! Alô! Tatiana! Gritava!
― Oi, menina, calma, o que houve?
― Recebi o telegrama da prefeitura, agorinha mesmo. Fala Clarice toda ansiosa, dava até pra ouvir sua respiração ofegante.
― Eu ainda não, recebi. ― Mas vai receber amiga!
― Tenho que comparecer e levar todos os meus documentos no dia marcado.
― Legal, Clarice, já vai separando e tirando copias,pra não esquecer de nada.
― É isso que vou fazer. Vou indo Tatiana, beijo, depois nos falamos, quando o seu chegar me avise.
E assim fiquei no aguardo do telegrama chegar. Mas pensei que não fosse vir naqueles dias, ou até meses, já que minha colocação tinha sido baixa.
No dia marcado, Ana Clarice levara seus documentos, e num dado momento é chamada para escolher sua escola, a que ia lecionar. Todas as convocadas tinham a mesma tarefa.
Entre muito bairros da cidade do Recife, ela escolher o COQUE, pra espanto de quem estava ao seu lado e que diz:
 ― Nossa! ―Tu vai mesmo pra esse?
― Lá é tão perigoso, comentou uma professora à Ana Clarice.
― E é?! Qual bairro não é? ― Respondeu Ana, com um tom de  voz irritado.
― Escolho o COQUE, se é perigoso ou não, verei quando chegar lá.
No dia marcado Ana Clarice sai de casa cedo e pega um ônibus em direção a Estação Joana Bezerra. Chegando, fica parada olhando tudo em sua volta, respira fundo e diz: ― Deus, aqui estou, se for de sua vontade permanecerei, o medo que estou simplesmente é de enfrentar o “novo”, mas sei que tu és Pai e não vai me abandonar! Desabafa com um vozinha meio chorosa.
A primeira impressão nada a surpreende, pensa não haver nenhuma diferença de outros bairros, comércios, lojinhas, crianças na rua,muito lixo,ambulantes, movimento de veículos, fila de táxi,emfim tudo que era de se esperar, todo bairro tem seu índice de violência , nenhum escapa,pensa Ana. 
Com um papel à mão tinha o endereço da escola, Rua Cabo Eutrópio, Escola Municipal Professor José da Costa Porto. Pára um rapaz que estava à sua frente:
― Oi, bom dia! Você sabe onde fica a rua Cabo Eutrópio?
― O rapaz, balançou a cabeça de forma negativa.
Segue em frente, e observa que a rua que estara é paralela ao caminho que o metrô percorre e fica observando,meio curiosa. ― Que rua longa! Exclama. Mas a frente chama um senhor, que meio assustado fica parado a espera de sua aproximação.
― É o que? Diz ele. Parece temer algo. ― O que será que ele pensa que eu sou?
― Bom dia! Ele nem responde. ― O senhor sabe onde fica ...?
― Sei não! ― Ele nem deixou Ana  terminar de dizer o que estava procurando. Ela sorrir meio encabulada e agradece.
Num cruzamento, Ana vê alguns comércios e fica mais tranquila, mais gente na rua, com certeza alguém lhe ajudara.
― Bom dia, moça. Ela passava jogo de bicho numa banca, nem sequer levantou a cabeça,pra responder.O senhor, que estava fazendo seu jogo, foi que respondeu e gentilmente foi perguntando:
― A senhora tá procurando alguém ou alguma coisa?
― Estou, é a rua Cabo Eutrópio. ― Oxê! Você esta nela.
― E a escola Costa Porto, da prefeitura?
― Mais na frente. Ande mais um pouquinho, do seu lado direito, não tem erro, lá está ela, tá vendo? Perguntou o senhor.
― Sim, estou. Que bom já andei tanto! E neste Sol!
― É professora,é? ― Sim, vou ensinar lá. ― Boa sorte! E bem vinda ao Coque.











sábado, 24 de agosto de 2013

I CAPÍTULO

                                
                                Como tudo começa

Eu sou meio suspeita pra falar, pois conheci Aninha( é assim que chamava Ana Clarice intimamente), pois estudamos juntas a graduação em pedagogia no início de 2003 e até hoje nossa amizade perdura.
Ela sempre foi falante, criativa, amiga de todas as horas, quebrava o galhos de algumas outras colegas, namoradeira,e ao mesmo tempo pensativa, crítica,às vezes gostava mais de ouvir do que de falar. Mas, não poderia deixar de expor para vocês essa história que começa assim...
Quando conheci Ana Clarice, ela já ensinara na escola de sua mãe Maria, uma escola pequena,porém acolhedora e organizada, de um bairro carente e também estigmatizado da cidade do Recife.
Ouvia muito ela falar que estava feliz por ajudar a sua mãe a realizar sonhos, que também eram dela. ensinava crianças a ler e se apropriar da leitura, era bonito de ver como ela enchia os olhos de lágrimas ao descrever a sensação de ver seus alunos da alfabetização lendo e fazendo uso da leitura. Emocionava.
Aninha tinha apenas o magistério,assim ficou por alguns anos. a cada dia sentia que era realmente aquilo que queria para sua vida, ser professora.
Nesta escola ela viveu e ainda vive grandes histórias, uma outra que veio a memória agora, foi quando começara a ensinar no ensino fundamental, numa tarde de um dia que não me recordo agora, recebe o telefonema de uma mãe aflita, querendo matricula para sua filha, mas fala que esta tinha um “problema” e Ana Clarice prontamente perguntou: ― Que problema senhora? ― Ela tem uma deficiência. Responde a mãe, aflita e esperando uma resposta negativa daquela professora. ― Não tem problema nenhum, pode vir aqui conhecer a escola. Ela no outro dia, vai à escola e como era de se esperar, foi muito bem recebida, e atentamente Clarice ouvia o que a mãe daquela criança falara e depois de muito ouvir começou a falar: ― Bem, mãe vou lhe ser sincera, não tenho experiência com crianças com Síndrome de Down.mas, o que seria de nós professores se não houver uma primeira vez,será o meu primeiro desafio como professora,indagou Ana Clarice,e peço a ajuda da senhora e seu esposo,o mais importante será como transmitir de maneira clara todos os conteúdos  A mãe,balança a cabeça como forma afirmativa e completa: ― No que você precisar estaremos prontos a atender, orientar,ela também é acompanhada por psicólogo, fonoaudiólogo, enfim uma série de profissionais que dão suporte e me ajudam também,completa. ― Vou pedir orientação a minha professora de Educação Especial na universidade que acabei de entrar, fala Ana Clarice.
Esta foi uma grande experiência para minha amiga e até hoje ela se orgulha da postura que teve frente ao “diferente”, para ela eram todos iguais na sala de aula.
Ela sempre quis fazer sua graduação, finalmente começa e realiza mais um sonho.
Como falei lá no início conheci Ana Clarice na universidade,mais precisamente no dia da matricula. Lá estava ela sentada no banco do pátio esperando a hora de entregar os documento, quando me aproximei puxando conversa:
― Oi! Bom dia!
― Tá esperando abrir a secretária?
― Estou, já, já abrem,respondeu.
― Seu nome? ―Ana Clarice e o seu?
― Tatiana.
― Que curso vai fazer?
― Pedagogia, à noite.
― Eita! Então poderemos ser colegas de classe,pois também vou fazer. Acho que quando entregarem a grade curricular vem o número da sala e turma.
― Acho que sim,legal! diz, Ana Clarice.
E assim aconteceu.Estudávamos numa sala com mais 50 alunos, e tínhamos 12 professores. Cada disciplina, um professor, víamos eles uma por vez semana, tá dando pra imaginar né?!  Quantidade de trabalhos e atividades.Enlouquecendo? Estávamos quase!(risos)
Inúmeras vezes via Clarice chegar super cansada do dia de trabalho que tivera, às vezes desanimada, mas preferia ficar quieta.
Mas assim também chegavam algumas outras colegas que também ensinavam em alguma escola ou trabalhavam em loja do comércio do Recife. Eu não chegava cansada, mas vez ou outra atrasada, morava no Cabo.Não trabalhava, fazia alguns bicos e recebia ajuda de meus pais.
Nossa vida acadêmica foi marcada pelos inúmeros  trabalhos, provas, estágios, relatórios, resenhas, livros e livros lidos e por fim a tão temida monografia.
Passados três anos e meio concluímos o curso. Claro que não paramos por aí, juntamos um grupo bom de colegas de sala e fomos para mais um desafio, a pós-graduação.
Quando terminamos a graduação em 2006, fizemos um concurso que a a prefeitura da cidade do Recife abrira, era para professor I e professor II.Estávamos confiantes, pois acabávamos de sair da universidade, o conteúdo fluía  No dia que saiu o resultado liguei pra aninha e vibrávamos. ― Passamos! Fomos aprovadas! Que bom amiga parabéns! Falamos uma a outra.
Então ficamos no aguardo de sermos chamadas, já que o concurso era válido por 2 anos.

Educação Especial que nos aguarde!
Era assim que Ana Clarice falava,e assim fizemos, Clarice foi logo dizendo que queria este curso,pois,só assim se aprofundara mais sobre este universo, que é dos portadores de necessidades especiais. Como também expor suas experiências, trocar idéias, apreender mais sobre tudo que lhe inquietava. Tinha grandes dúvidas se agira certo com aquela aluna. Mas, no fundo era só ansiedade, era muito competente e até hoje tem amizade com aquela família.
Começamos nossa especialização em 2007, aos  sábados o dia todo. Sentávamos num canto da sala, ali conversamos baixinho, tirávamos dúvidas, de repente: Psiu! ― Quem cochicha? ― Perguntava a professora. Abríamos um sorriso amarelo. ― Somos nós professora.Desculpe. E assim, era nossas aulas, umas animadas,produtivas,outras calmas,confusas.Mas estávamos ali, firmes e fortes.
No final do ano de 2007, terminávamos a pós-graduação, mas tínhamos até o mês de março para entregar a monografia. E assim em março desde mesmo ano entregamos nossa monografia e depois de 15 dias sai nossa aprovação.
No dia em que fomos receber o resultado da monografia da Pós-graduação,marquei com Clarice num restaurante onde almoçávamos aos sábados,e ai apresentei Pedro meu namorado. ― Ainda estou a procura do meu amor, brinca, Ana Clarice.
Sensação de dever cumprido.



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PREFÁCIO

Esta é uma história de uma Professora chamada Ana Clarice que  no ano de 2009 começa a lecionar numa Escola pública da cidade do Recife, no Bairro de Joana Bezerra (Coque).Ana Clarice já ensinara numa escola particular, que pertence a sua mãe Maria, porém,lecionar numa escola pública, seria mais uma uma novidade em sua vida acadêmica.
Na escolha da escola começa a lembrar de comentários feitos por colegas a alguns bairros da cidade, bairros estigmatizados pela sociedade, que sofrem por um abandono cruel e lembra, principalmente, que o Coque é um dos mais citados.  Com isso surge o medo de ir a esta Escola. Um medo que aos poucos vai se transformando em desafio e em uma coragem fora do normal.
Decidida então a enfrentar aquele tão temido “Coque”, conhece a Escola e começa a dar aulas. No início vê entre os alunos situações de violência física, verbal, Bulliyng, falta de respeito, falta de uma rotina educacional, falta de educação doméstica e falta de Amor. Passa a sentir que os alunos oriundos daquela comunidade tão esquecida são frutos deste estigma, consequentemente, não têm perspectiva de um futuro melhor, promissor e feliz.
Depois de muito refletir, percebe que não poderia ser mais uma professora para eles ,mas teria de ser “A Professora”. Mudar sua postura, envolvê-los com os conteúdos, principalmente envolvê-los com um sentimento que muitos não tinham: Amor.
Esta professora passa por diversas situações, que nos leva a sentir e refletir sobre diversos temas. No momento em que ela  decide escrever, definitivamente a sua história.
Agora, quero apresentar a vocês essa Professora e lembrar um pouco das histórias e desafios  .